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ARTIGO DE OPINIÃO | Doença Venosa Crónica e Patologia Cardiovascular

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A Doença Venosa Crónica (DVC) é uma patologia com impacto significativo na qualidade de vida1, contudo recentemente vários estudos científicos têm chamado a atenção para a possível associação entre DVC e risco cardiovascular.   

1.       Insuficiência venosa crónica e risco cardiovascular2

Em 2021 Prochaska et al. publicaram no European Heart Journal um artigo que explora a prevalência da insuficiência venosa crónica (estados mais avançados da DVC) e o seu impacto na doença cardiovascular e na mortalidade. Os investigadores realizaram um estudo com base numa base de dados populacional na Alemanha, com mais de 12.000 participantes para analisar a relação entre a insuficiência venosa crónica e as doenças cardiovasculares. O estudo concluiu que a insuficiência venosa crónica (IVC) estava associada, de forma independente, a uma maior prevalência de fatores de risco cardiovascular e co-morbilidades. Além disso apresentavam uma maior mortalidade, mesmo depois do ajuste dos dados para outros fatores confundidores, como a idade, o sexo e outros fatores de risco conhecidos. Estes resultados realçam a importância de reconhecer a insuficiência venosa crónica como um problema de saúde grave e sublinham a necessidade de mais projetos de investigação para compreender os mecanismos subjacentes e desenvolver tratamentos eficazes.

Este artigo teve um impacto significativo na comunidade médica, pela qualidade do desenho do estudo, número de doentes incluídos e resultados ímpares. Contudo outros trabalhos de investigação, alguns deles prévios a este, procuraram também analisar a relação entre a doença venosa crónica e a patologia cardiovascular.

 

2.       Varizes e outras doenças vasculares3

Shyue-Luen Chang e a sua equipa investigaram a associação entre varizes dos membros inferiores e a incidência de três doenças vasculares: trombose venosa profunda, embolia pulmonar e doença arterial periférica. Utilizando dados do programa nacional de seguro de saúde de Taiwan, os investigadores realizaram um estudo de coorte retrospetivo que envolveu mais de 400.000 adultos. O estudo encontrou um risco significativamente maior de trombose venosa profunda entre os indivíduos com varizes. No entanto, as associações com embolia pulmonar e doença arterial periférica foram menos claras, possivelmente devido a fatores confundidores. Os autores reconheceram as limitações do desenho do estudo e salientaram a necessidade de outros projetos de investigação para determinar se a associação entre varizes e trombose venosa profunda é causal ou representa um conjunto comum de fatores de risco subjacentes.

 

3.       Impacto do tratamento da Doença Venosa Crónica4

O tratamento da doença venosa melhora a qualidade de vida, diminui a progressão da doença e diminui o risco de complicações associadas à DVC. 

Shyue-Luen Chang investigou o impacto do tratamento da ablação térmica endovenosa na incidência de tromboembolismo venoso e doença arterial periférica em doentes com varizes. O estudo comparou pacientes que foram submetidos a tratamento com ablação térmica endovenosa com um grupo de pacientes não tratados. O estudo concluiu que o tratamento com ablação térmica endovenosa está associado a uma diminuição significativa da incidência subsequente de trombose venosa profunda e doença arterial periférica em comparação com o grupo não tratado. Embora tenha sido observada uma diminuição do risco de embolia esta não foi estatisticamente significativa. Os autores concluíram que o tratamento precoce de varizes pode ajudar a prevenir complicações graves, sendo necessário investigar quais os mecanismos inflamatórios associados às varizes e o seu potencial impacto na trombose venosa profunda, embolia pulmonar e doença arterial periférica.

 

Explicação fisiopatológica

Estes estudos não provam que a Doença Venosa Crónica provoca doença cardiovascular, mas que existe uma relação entre ambas. É necessário um progresso na investigação científica para compreender plenamente a associação entre estas duas patologias. As duas doenças partilham fatores de risco e possivelmente mecanismos fisiopatológicos, envolvendo a inflamação, a trombose e a disfunção endotelial.

Estes resultados enfatizam a necessidade de o profissional de Saúde avaliar o risco cardiovascular num doente com Doença Venosa Crónica não descurando os fatores de risco tradicionalmente associados à patologia cardiovascular.

Referências:

1- Albuquerque de Matos A., Mansilha A., et al. Recomendações no diagnóstico e tratamento da doença venosa crónica; SPACV; Junho 2011

2- Prochaska JH, et al. Chronic venous insufficiency, cardiovascular disease, andmortality: a population study.  Eur Heart J. 2021;42:4157-4165

3- Shyue-Luen Chang, MD, et al. Association of Varicose Veins With Incident Venous Thromboembolism and Peripheral Artery Disease. JAMA. 2018;319(8):807-817.

4- Shyue-Luen Chang, MD, et al. Treatment of Varicose Veins Affects the Incidences of Venous Thromboembolism and Peripheral Artery Disease. Circ Cardiovasc Interv. 2021;14:e010207.

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